Sob o prisma do instante vivido, a morte seria uma impossibilidade, entre outras, e a vida apenas um ponto fora da curva? O vivo leitor do agora está tão ou mais vivo que qualquer escritor.
Muralhas de Impérios rangem sob a angústia das massas
Ranger que ganha pressão sob nuvens de bravatas
Impotentes frente à obviedade do sangue
Infantil nos destroços da Faixa arrasada
Protestos ao longe escutados
Canetas de ouro em bandeja de prata
Diplomatas cantando e
Diplomatas desesperados
Frente a outra vitória… aniquilada
As dualidades aparentes no que se percebe (eu - os outros; beleza - tristeza; amor - cólera; mundo interno - externo, leitor - escritor; etc.) vem se agravando neste estranho mundo novo, onde a inteligência e a estupidez humana se contrapõem à inteligência e mesmo à arte artificial. Os diferentes pseudônimos que encarno quando escrevo refletem essas dualidades e também as múltiplas identidades em um ser. Afinal, o amor e a cólera, o interno e o externo, a alegria e a dor, são percepções de um ser em seu instante e não dados fixos de uma suposta realidade.
Trilhando presentes apagados
Dejetos, ciclos de vingança
Quanto mais ignóbil, mais empoderado
Outra rajada de óleo no planeta fornalha
Quero mesmo é comentar-lhes algo: certa vez sonhei que seria possível transcender por meio de um fluxo artístico, desfazendo-se em arte
Materialidade fluida, como ouro líquido, clara que se mistura à gema. O nada-evidente e “o não-dito gritam a nossas orelhas” a permanente calma da morada etérea. Sobre mim, poemas caindo como folhas deslumbradas.
E gira a linha do tempo
A cacofonia das caveiras empossadas
mandato de meias-verdades
A dança de tronos
O oco da coroa
Tudo se soma a órfãos em diáspora libertária
Íntegras, altivos, atentos
A resistência regenera
Nossas veias, abertas
Quando se restabeleça a primeira árvore
Desenraizada por essa enchente programada
Dos destroços, braços soterrados
O Keffiyeh tremulando de um redemoinho
De vento no vão do prédio esfarelado
Página virada,
O desenho rococó na folha clara…
Artesania da palavra como rebeldia ao tempo
Embelezando impiedosamente o banal e o indesejado
Despistando mudanças, replicando vivências
Assim vou tecendo a fábrica desta vieira que trepa as grades de nossa varanda. Sem dó nem piedade trato uma mera gota de água como o sertão da Bahia, um atravessar de rua me remonta ao naufrágio do Titanic e as guerras são versos de uma ode que nunca deveria ter sido escrita. Que sejamos magnânimos o bastante para evitá-las…
Bem, soaram as cinco horas,
A profundidade da noite
Estilhaça-me no cri-cri do grilo
O mate aquece o suspirar de Alvorada
De uma franja frisada e alva
O rosa se esparrama dourado
Laranja são suas unhas e ruivos seus pêlos
Com um vestido repartido em dois
Índigo abaixo e safira desde o centro
Azuis de minha amiga de longa data
No labirinto de seu cinto de nuvens
Vivem a pérola da luz
Olho da imensidão
E o êxtase de quem chegou até o agora
Vai daqui um abraço de Aurora