Biografia

Bio

Biografia

 

O poeta, letrista e escritor Fernando Moreno ou, FER, discerne e traduz nossas visões do Essencial-Efêmero armado apenas de lápis e papel que revelam um sarcasmo santo, característico de sua personalidade sutil, visível em seus olhos de paz eterna por trás das inquietações do tempo. 

Era chamado Tamk Gobaj, o que observa o Nascente, nos anos em que explorou os países da América do Sul e reuniu poemas de uma pungente suavidade em seu livro datilografado em máquina de escrever e autopublicado: Aguagem - poemas à deriva (2013).

Os tempos voam como nuvens rumo a uma tempestade de bonança: FER tem percorrido terras remotas e fascinantes: os desertos andinos de sal, as selvas e rios amazônicos, as praias índicas da África, as ruas sitiadas de Hong Kong, o denso gelo do Quebec… Por essas explorações FER colecionou por uma década poemas, canções e correspondências, todos manuscritos, no multifacetado livro Mosaïco (2023). 

Por desejo da Musa, vem também escrevendo à mão seu primeiro romance para com ele inundar o mundo de lótus vivas em chamas de clareza. Sua experimentação literária ocorre como, por crer em e conhecer muito bem os venenos do devaneio, prenúncio para o antídoto-ao-sonho aonde encontramos Termas – tesouros espirituais – no Nepal ou na consciência absoluta.

Quando contemplar verso é fotografar o invisível e fotografia é lugar de silêncio/música, é aí que encontramos a panorâmica poesia de FER…

Meus olhos encontravam os seus

Num teatro de marionetes vivas

As cigarras cantavam até

Partirem-se em dós

As cigarras cantavam até

Partirem-se em dois

Nossa amizade infante

Era a prova final de Deus

Antibiografia

Sob o prisma do instante vivido, a morte seria uma impossibilidade, entre outras, e a vida apenas um ponto fora da curva? O vivo leitor do agora está tão ou mais vivo que qualquer escritor.

 

Muralhas de Impérios rangem sob a angústia das massas

Ranger que ganha pressão sob nuvens de bravatas

Impotentes frente à obviedade do sangue 

Infantil nos destroços da Faixa arrasada

 

Protestos ao longe escutados

Canetas de ouro em bandeja de prata

Diplomatas cantando e

Diplomatas desesperados

Frente a outra vitória… aniquilada

 

As dualidades aparentes no que se percebe (eu - os outros; beleza - tristeza; amor - cólera; mundo interno - externo, leitor - escritor; etc.) vem se agravando neste estranho mundo novo, onde a inteligência e a estupidez humana se contrapõem à inteligência e mesmo à arte artificial. Os diferentes pseudônimos que encarno quando escrevo refletem essas dualidades e também as múltiplas identidades em um ser. Afinal, o amor e a cólera, o interno e o externo, a alegria e a dor, são percepções de um ser em seu instante e não dados fixos de uma suposta realidade.

 

Trilhando presentes apagados

Dejetos, ciclos de vingança

Quanto mais ignóbil, mais empoderado

Outra rajada de óleo no planeta fornalha

 

Quero mesmo é comentar-lhes algo: certa vez sonhei que seria possível transcender por meio de um fluxo artístico, desfazendo-se em arte

 

Materialidade fluida, como ouro líquido, clara que se mistura à gema. O nada-evidente e “o não-dito gritam a nossas orelhas” a permanente calma da morada etérea. Sobre mim, poemas caindo como folhas deslumbradas.

 

E gira a linha do tempo

A cacofonia das caveiras empossadas

mandato de meias-verdades

A dança de tronos

O oco da coroa

Tudo se soma a órfãos em diáspora libertária

 

Íntegras, altivos, atentos

A resistência regenera

Nossas veias, abertas

Quando se restabeleça a primeira árvore 

Desenraizada por essa enchente programada

 

Dos destroços, braços soterrados

O Keffiyeh tremulando de um redemoinho

De vento no vão do prédio esfarelado

 

Página virada,

 

O desenho rococó na folha clara…

Artesania da palavra como rebeldia ao tempo

Embelezando impiedosamente o banal e o indesejado 

Despistando mudanças, replicando vivências

 

Assim vou tecendo a fábrica desta vieira que trepa as grades de nossa varanda. Sem dó nem piedade trato uma mera gota de água como o sertão da Bahia, um atravessar de rua me remonta ao naufrágio do Titanic e as guerras são versos de uma ode que nunca deveria ter sido escrita. Que sejamos magnânimos o bastante para evitá-las…

 

Bem, soaram as cinco horas,

A profundidade da noite 

Estilhaça-me no cri-cri do grilo

O mate aquece o suspirar de Alvorada

 

De uma franja frisada e alva

O rosa se esparrama dourado

Laranja são suas unhas e ruivos seus pêlos

Com um vestido repartido em dois

Índigo abaixo e safira desde o centro

Azuis de minha amiga de longa data

 

No labirinto de seu cinto de nuvens

Vivem a pérola da luz

Olho da imensidão

E o êxtase de quem chegou até o agora 

 

Vai daqui um abraço de Aurora

MOSAÏCO

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Aguagem

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